a história do candeal começa no continente africano

Imagem: Pedra de Ogum. Acervo Pracatum.

A história do Candeal, uma área do bairro de Brotas, nos remete ao século XVIII e a uma mulher africana: Dona Josepha Santana, que chegou à Salvador da Bahia, em 1781, em busca dos seus parentes escravizados. Mesmo sem tê-los encontrado, ela se estabelece na então Freguesia de Brotas, adquirindo muitas terras com roças de dendê.

Josepha casou-se com Antônio Mendes, africano liberto, originário da Costa do Marfim, na África Ocidental. Antônio, que adotou a religião muçulmana ainda na África, trouxe uma pedra como amuleto que teria lhe salvado a vida na travessia do Atlântico. Essa pedra foi assentada por Dona Josepha na residência do casal, no Candeal de Cima, onde hoje se encontra um tamarineiro, plantado por seus descendentes.

Mais tarde essa pedra foi assentada na Casa de Ogum, um santuário situado no que hoje se conhece como Largo do Tamarineiro. Ogum se constituiu como padroeiro do bairro e uma cerimônia se realiza a cada primeiro de janeiro neste local sagrado do Território Candeal.

Dona Didi, a guardiã

Hilda Sant’anna Quirino (1919-) nascida e criada no bairro do Candeal é tataraneta de D. Josepha, bisneta de D. Tomasia, neta de D. Francisca Romana Mendes, e filha de Florentina de Sant’anna. Ela guarda com cuidado a árvore genealógica da família fundadora do bairro. Sempre que solicitada conta a história do Candeal.

Neste relato se refere a ambiência do bairro do Candeal da primeira metade do século 20:

“Nunca vi tanta casa, tanta gente que eu nem conheço. Aqui era uma família… Aquela amizade do pessoal feliz, pessoal tranquilo, aqui nunca foi lugar de barulho. Polícia não vinha aqui. Todo pessoal aqui se respeitava. Todo pessoal aqui se unia. Agora a população cresceu, tá tudo diferente. Aqui não era favela. Favela é um lugar que tem muitas casas, com tudo desorganizado. Justamente as casas daqui não eram casas todas bem alinhavadas… porque se eram casas salteadas, tinha uma casa aqui, daqui a vinte metros outra, daqui a quarenta metros outra… ia fazer ruas? Se era roça? Você chegava aqui nesse fundo, não via casa, só via mangueira, de todas as qualidades de manga havia aqui nesse Candeal, parreira, jabuticaba, carambola, oiti, tamarineiro,… lá embaixo, três hortas. Dava para todo mundo aqui e ainda se vendia na Sete Portas” D. Didi, em depoimento ao pesquisador Marcelo Gadêlha em 9 de junho, 2003.

Referências:

GADÊLHA, Marcelo, Organizações Brown: Identidade cultural e liderança em um complexo de organizações baianas, UFBA, Faculdade de Administração, Salvador, 2004. http://www.adm.ufba.br/sites/default/files/publicacao/arquivo/organizacoes_brown_-_marcelo_gadelha.pdf

APAS. A história de Josepha Santana – O Candeal. Salvador, 2009.