a infância de carlinhos brown no bairro do candeal pequeno

Imagem: Família de Carlinhos Brown, em frente a casa no Candeal. Acervo pessoal de Carlinhos Brown.

Carlinhos Brown (Antônio Carlos Santos de Freitas) nasceu em 23.11.1962, no Candeal, um bairro de Salvador que se tornou famoso justamente por ser o berço desse percussionista e compositor baiano. Do signo de Sagitário, é o primeiro dos nove filhos de Dona Madalena Santos e Sr. Renato Freitas, mais conhecido como Seu Bororó.

Até os anos 1970, durante a infância de Carlinhos, o Candeal era um bairro meio isolado, quase não passava carro tinha uma grande mata, hortas, fontes de água, a comunidade toda se conhecia, a criançada brincava na rua de gude, arraia, fura pé, bola.

“Os balanços eram feitos em árvores frutíferas. Fui cercado de muitos amigos e espiritualidade também. A casa era toda pitadinha de cal com uma porta vermelha, que tinhas dois números: 164 e 17 E “. https://gshow.globo.com/Famosos/noticia/carlinhos-brown-lembra-infancia-em-salvador-e-fala-do-lado-crianca-o-que-nao-fiz-la-atras-faco-hoje.ghtml

Uma escola musical

Brown começou a trabalhar ainda criança, sua mãe era lavadeira e a bica era um espaço muito frequentado pelo menino que se tornou aguadeiro, ou seja, ele abastecia as casas dos vizinhos, ganhava um troco e ficava longe da escola.

“Só tive oportunidade de frequentar aulas durante sete ou oito meses, primeiro porque eu precisava trabalhar pra colaborar com a família e, segundo, porque não me dei muito bem com o método de ensino da época. A escola matava meus heróis e as histórias que eu sabia pela minha família e pelos meus vizinhos. Ela preparava as pessoas para serem copistas e, depois, mostrava a história de um Brasil que não era o que eu conhecia (BROWN, Revista Possível, 2004, p.31)”.

Mas a infância no Candeal deu a Carlinhos Brown uma outra escola. Como qualquer área periférica soteropolitana, é um bairro cheio de percussionistas e era frequentado por Osvaldo Alves da Silva, conhecido como Pintado do Bongô, mestre do menino Carlinhos. Pintado relembra como conheceu seu discípulo.

“Eu fazia uns pagodes na porta de um barzinho chamado Surubem, no Candeal, e Carlinhos foi chegando, só olhando. Eu: o que será que esse menino quer? Chamei ele. Ele disse que não podia ir porque estava nu da cintura pra baixo, preso dentro de casa. Todo sábado eu fazia pagode, até que um dia ele se libertou. O pai não queria, achava que ele ia se perder. Essa era mais preocupação dele porque eu fazia muita farra, saía pra tocar de noite e voltava no outro dia. Carlinhos foi ficando e nos conjuntos que eu tocava, se ele não fosse todo mundo exigia. Ele começou tocando pandeiro, tamborim, reco-reco, cada dia eu dava um instrumento e eu sei que ele aprendeu todos, daí se desenvolveu” (BONGÔ, apud LIMA, 1997, p.12).

Referências

  1. GUERREIRO, Goli. O drible do Candeal – O contexto sociomusical de uma comunidade afro-brasileira. Salvador, CEAO: Revista Afro-Ásia, 2005.https://portalseer.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/21106
  1. LIMA, Ari. A estética da pobreza- música, política e estilo. Dissertação de Mestrado em Comunicação e Cultura da ECO-UFRJ, Rio de Janeiro, 1997.
  2. REVISTA POSSÍVEL. Carlinhos Brown – musicalidade na veia. São Paulo, Editora Leitura & Arte, Ano 1. Nº 5, 2004, pp.28-37.