carlinhos brown e vai quem vem: o levante cultural do candeal

Imagem: David Airob y Guillermo Rodríguez in Carlos Galilea.

Aos quinze anos, em 1977, Carlinhos Brown já estava tocando percussão em bares do bairro do Rio Vermelho e as propostas de trabalho vindas de diversos cantores não paravam de acontecer. “Foi assim que comecei a minha carreira de percussionista. Ganhava sempre o transporte e os cachês dos shows, eu recebia no final do mês. Lembro como se fosse hoje do dia em que cheguei em casa com uns cinco salários mínimos” (In: http://www.carlinhosbrown.com.br/bio/1960-1989/).

Como percussionista e compositor, Carlinhos Brown se tornou integrante da banda Acordes Verdes, liderada por Luiz Caldas, em 1984, quando já estava envolvido com a formação de crianças e jovens percussionistas do bairro do Candeal: Gilson Brito, Sinho de Risonete, Leo Bit Bit, Boghan, Renato Trovoada, Baldino, Gerônimo, Gustavo de Dalva, entre outros.

Laboratório de rua

Esse grupo deu origem um movimento percussivo chamado Vai Quem Vem. Era um laboratório de rua que desencadeou um processo de invenção rítmica na qual se destacam inovações performáticas e instrumentais como: modificação de instrumentos tradicionais a exemplo do timbau, e a criação do surdo virado e do rubernose.

http://territorio-candeal.pracatum.org.br/na-escadaria-do-zap/

Boghan relembra os primeiros momentos desse levante cultural no Candeal:“A gente estava fazendo uma vaquinha pra comprar instrumentos de um cara e pedimos a contribuição de Brown. Depois ele nos viu tocando e chamou pra ensaiar e a coisa foi aumentando. Eram cerca de 25 garotos, todos do Candeal. A gente ensaiava todo dia na casa de Carlinhos. Se não tinha instrumento, a gente tocava com sandália havaiana no chão da varanda” (entrevista ao blog, 2018).

Os ensaios aconteciam também na OAS, como era conhecida a área em que o bairro Cidade Jardim estava sendo construído. E era comum a visita de músicos , amigos de Carlinhos Brown, nos ensaios. Gilberto Gil não perdeu tempo e levou a Vai Quem Vem ao primeiro Rock in Rio, em 1985.

A potência musical do grupo, que teve várias formações, logo ultrapassaria as fronteiras nacionais, pois Sérgio Mendes ganha o Grammy com o disco Brasileiro com a participação da Vai Quem Vem em cinco faixas. “Isso foi muito forte pra gente, porque um Grammy não era nossa realidade e nossa condição naquele momento”. Carlinhos Brown in Bahia Beat, 1996.

Através desse levante cultural, Carlinhos Brown e os seus discípulos se viram protagonistas de um movimento que inseriu o bairro do Candeal na cena midiática mundial. Mas, de forma imprevista, a Vai Quem Vem se dissolveu e deu lugar à Timbalada.

REFERÊNCIAS

Bahia Beat, TV ARTE, FRANÇA, 1996

http://www.carlinhosbrown.com.br/bio/1960-1989/.