novas famílias no bairro do candeal

Imagem: Seu Mariano, Dona Vanju, Sinho e Dona Souza. Acervo Pracatum.

Por várias gerações, as terras do Candeal pertenceram aos descendentes do casal africano, Josepha Santana e Antonio Mendes (que chegaram ao Candeal no fim do século 18). Por cinco gerações, um modo de vida africano-baiano foi se consolidando e sendo transmitido pela Família Santana, como são conhecidos até hoje.

 

Somente a partir de 1930, as terras começaram a ser arrendadas a novas famílias e as casas iam aparecendo aqui e ali, dando origem a uma migração de pessoas vindas de outros lugares da Bahia e também de outros bairros de Salvador. A ideia de que todo mundo era parente se manteve forte mesmo com a chegada de novas famílias no bairro do Candeal. Elas se ambientaram às formas tradicionais de vida nessa comunidade.

Antes da luz elétrica

Os avós maternos de Carlinhos Brown chegaram ao Candeal na primeira metade do século 20. Dona Damiana e seu Bertolino, nascidos em Irará e Cruz das Almas chegaram ao bairro em 1952, quando a mãe de Brown, Madalena Santos, tinha 5 anos. Aos quinze conheceu Renato Teixeira de Freitas e logo tiveram seu primeiro filho Antônio Carlos Santos de Freitas. http://a-infancia-de-carlinhos-brown-no-bairro-do-candeal-pequeno

 

Mariano de Souza Xavier, avô do músico Sinho, nasceu na Ladeira da Praça, em 1932 e chegou ao Candeal em 1955, casado com Dona Souza. Ele relembra:

“Quando cheguei ao Candeal não tinha água encanada, nem luz, entrega de gás, nem ruas calçadas. A cisterna tinha de ser perfurada até nove metros para encontrar água. Tudo era mato, lama e árvores frutíferas. Tinha jacaré, cobra, sucuri e jiboia que desciam do morro do Itaigara e comiam as galinhas, os cachorros e as cabras” (In: Aos olhos dos Erês)http://festa-de-radiola

 

A luz elétrica só chegou na área em 1970, quando a cidade se expandiu e a construção de avenidas trouxe moradores, comércio e trabalhadores. A área da mata do Candeal foi alvo da especulação imobiliária e logo as árvores foram derrubadas para dar lugar a um bairro moderno para a classe alta, ironicamente chamado de Cidade Jardim, que faz fronteira com o Candeal.

 

Seu Júlio, nascido em 1925, que chegou ao Candeal bem antes disso comenta a transformação: […] era uma imensa horta, cercada de charcos por todos os lados. As pessoas foram chegando e ocupando a área. Como a pobreza era muita, ninguém podia morar em outro local e acabava aqui, onde a cidade nunca tinha chegado. Hoje, é isso aí que se vê. Estamos cercados de estradas e prédios por todos os lados” (Júlio Ribeiro da Silva, In: Andrade Leal, 2004)

 

REFERÊNCIAS

APAS . Aos olhos dos Erês. Projeto Pracatum, 2008

Maria das Graças Andrade Leal. Candeal: ocupação e constituição de um bairro em Salvador–Bahia (séculos XVIII-XX). In: Tempos Históricos • Volume 18, 2014.