no princípio era o ritmo
Imagem: David Airob y Guillermo Rodríguez.
A paisagem sonora do Candeal sempre esteve marcada pela música percussiva e é uma das mais importantes expressões das matrizes africanas que deram origem ao bairro e se consolidaram ao longo de dois séculos e meio. No início da década de 1980, essa musicalidade ganhou contornos mais definidos, através do movimento percussivo Vai Quem Vem, liderado pelo artista Carlinhos Brown, pois desencadeou um processo de invenção rítmica, onde se destacam inovações estéticas numa espécie de laboratório de rua.
Os saberes desse laboratório de rua contemplam o desenvolvimento de técnicas instrumentais específicas; criação e-ou modificação de instrumentos (timbau, surdo virado, bacurinha, robernose); composição de ritmos e peças percussivas; coreografias e performances; entre outros aspectos que conformam um acervo de saberes musicais específicos do Território Candeal.
A reflexão sobre estes conhecimentos, que têm sido relevantes para a comunidade, impulsiona a Escola Pracatum a organizar esse Laboratório de Saberes Percussivos. Não somente para estudar, sistematizar e apresentar esse legado a um público mais amplo, através da produção de materiais que viabilizem a compreensão desses saberes, mas também para seguir avançando no sentido de contribuir para o desenvolvimento e expansão desse fenômeno artístico.
A sistematização desse legado inclui uma cartografia musical formada por diversos micro-contextos como Bit Gabbot, Lactomia, Timbalada, Bolacha Maria, Hip Hop Roots, Candombless, Candyló, etc que beberam no fonte do movimento chamado de Levante Cultural e estabelecem elos com a Escola Pracatum.
Ao longo de duas décadas foram realizadas na Escola Pracatum diversas experiências musicais, tanto educacionais quanto profissionais e recreativas, envolvendo professores, alunos e outros músicos vindos de várias partes do mundo, atraídos pela cultura musical do bairro.
Os projetos realizados pela Escola Pracatum se debruçaram em experiências musicais como fusões rítmicas, pesquisa histórica-musical e transcrições de ritmos do Candeal. Alguns deles deram origem a gravações de álbuns (SMED) que integraram livros didáticos e publicações como Afrobook (2017) e Kandengue Tambor (2019).
O desafio atual do Laboratório de Saberes Percussivos é catalogar e apresentar esse material, além um produzir conhecimento prático e teórico auto-referenciado, em formato audiovisual, disponibilizando um material didático que descortine e amplifique a paisagem sonora do Território Candeal.